Em muitas cidades do Brasil existem eventos que acabam por se elevar ao patamar das tradições. Fiquei sabendo de uma dessas transmutações que em 2010 completará 10 anos de ininterrupta execução. O cenário: bares de Ribeirão Preto (SP). Os seguidores da tradição, cabida e carinhosamente batizada de A Rota, começam o encontro num bar chamado Pingüim e seguem até a outra extremidade geográfica, que se torna uma peregrinação alcoólica, um outro bar também chamado Pingüim.Agora, o caro leitor pergunta-me: Oriunda de que mente insana surge uma tradição dessas? Eu respondo: Por Ribeirão Preto passou um estudante chamado Gustavo, infinitamente mais conhecido por "Lagartixa" cujo radical "Laga" é ainda mais difundido entre seus amigos (a redação - eu merrrma - não conseguiu a origem do apelido). Laga era muito popular entre a jovem e pueril formação escolar da então Ribeirão Preto de 2001, quando cursava o colegial. Ele era muito querido pela "galééééra". Veja logo abaixo uma imagem do Laga na primeiro evento. Dica: Não é o oriental.
Então, seus súditos, fãs, amigos e amigos de amigos de amigos resolveram realizar qualquer desejo de Laga, tão querida figura que completava mais um ano de vida no dia 26 de julho de 2001. Aí é que temos a fase embrionária da futura tradição: O pedido de Laga foi fazer uma peregrinação de um bar Pingüim até o outro bar Pingüim. Quilômetros de distância entre um e outro. Até aí tudo bem. O detalhe sórdido que Laga tinha em mente, era que os convidados teriam que passar (o que significava encher a cara) por absolutamente todos os bares que existissem entre os dois Pingüins. Veja a foto do itinerário no verso da camiseta de um dos peregrinos de A Rota. Pelo que se estima, são cerca de vinte e cinco estabelecimentos.
O evento que transmutou-se em tradição de Ribeirão Preto, hoje conta com mais de cem peregrinos que vão a pé de um boteco ao outro e já conta com a presença cativa de um irlandês chamado Bryan que comparece anualmente para comemorar o aniversário de Laga, que ele sequer conheceu.
Todos os anos um designer desenvolve um belíssimo abadá do evento que para ser cumprido, começa durante o dia e arrasta-se durante toda madrugada. Poucos resistem até o fim. Quem bebe demais, senta no chão e evoca Hugo ou é caridosamente carregado por um amigo solidário e tão bêbado quanto. Os mais tolerantes ao álcool voltam a pé para casa, dormem em casa de amigos, pegam taxi ou acordam com um cachorro lambendo a boca. Coisa fina!
Transes acontecem nestas peregrinações, mas ninguém entende o porquê. A galera tira foto com cones de rua como se fossem a Ana Paula Arósio, homem tenta beijar homem, outro tenta beijar na boca um boneco de papagaio plástico, o efeito poltergeist atua em cadeiras que simplesmente caem para trás e derrubam os participantes... Enfim, coisas que nem padre Quevedo seria capaz de explicar.
Mas o fato é que Lagartixa, mentor da tradição, simplesmente sumiu de Ribeirão Preto. O descarado e amado habitante desta localidade foi embora para São Paulo e não voltou mais. Nada sabe-se sobre seu destino. Mas seu aniversário é comemorado todo ano pelo povo de Ribeirão Preto, Irlanda, por pessoas que sequer o conheceram, mesmo sem a presença de Lagartixa. Afinal, beber com ou sem Lagartixa, dá na mesma: Ressaca e muita história doida para contar! * Se na sua cidade acontece um evento-tradição engraçado, absurdo ou inexplicável, mande um e-mail contando a história para esta cartunista que vos escreve. Merecendo, posto a nova e útil cultura de sua cidade neste digno e sério espaço cibernético.
Pryscila - Diretamente de sua redação filial de Ribeirão Preto. Colaborador-diretor: Jr. Dib. pryvieira@yahoo.com.br
# introduzido por Pryscila @ 6:50 PM