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30.10.06

 

Halloween Tupinikeen

Afasta de mim este tal de róloim
Eloi Zanetti

Nos últimos anos, durante as duas semanas finais de outubro fico profundamente irritado com o comportamento dos meus vizinhos. É quando passamos ao mundo o nosso atestado de imbecilidade coletiva, de povo sem identidade, fácil de se dobrar aos costumes e modismos alienígenas. São os dias adventícios desta festa importada chamada Halloween*. Professoras de escolas de inglês e filmes de tevê de quinta categoria trataram de disseminar o assunto entre nossas crianças, e parece que o modismo é irremediável: veio mesmo para ficar.
Costume que vem sendo reforçado pela mídia e por apresentadores de televisão de peso. Nascemos para "macacos" de auditório e ninguém nos tira este destino.
Por que é que o nosso povo, tão rico em festas populares, se submete a esta "coisa" americanizada chamada Dia das Bruxas? Para eles a festa tem sentido, mas para nós que temos festas maravilhosas como Folia de Reis, Festas do Divino, Juninas, Carnaval, Boi Bumbá, Micaretas, Cavalhadas, Missa Criola, do Vaqueiro, Iemanjá, Sírio de Nazaré, N.S. dos Navegantes etc.? O que é que temos a ver com isto? Tenham paciência, róloim não é da nossa história nem do nosso imaginário religioso, e me doeu muito ver no ano passado uma festa de róloim em colégio de freiras. Deus tenha piedade destas irmãs, elas não sabem o que fazem. Será que foi uma exigência mercadológica?
Em minha opinião, a entrega das nossas empresas, bancos, telefonia, estradas e até serviços de lavanderias ao capital e principalmente à inteligência estrangeira é bem retratada quando nossas inocentes professorinhas de jardim de infância fazem em suas escolinhas festas de róloim. Uma bela maneira de criar cidadãos isentos de responsabilidade para com o seu país, costumes e cultura. Breve entregaremos as chaves do Palácio do Alvorada e o tal do róloim passará a fazer parte do calendário oficial da cultura de alguma Secretaria Estadual. É só ficar quieto e dar tempo ao tempo que alguém oficializará o evento. Se for para entregar o país, somos realmente eficientes, começamos logo por entregar corações e mentes das nossas crianças.
E a minha indignação não fica só com as barulhentas festas das bruxas americanas. Temos algo pior, são as modas country e seus caubóis de asfalto, hoje infestados em todas as classes. Do rapagão filho de papai-rico com suas pretensas picapes de fazendeiros de asfalto aos nhô-boys de bairro, que hoje escrevem frases erradas em seus Chevetes, Brasílias e Passats. Dizem que escrevem errado para provocar. Não, escrevem errado mesmo porque não sabem escrever. Não aprenderam nem querem se dar ao trabalho.
Nós, como os vaqueiros mais ricos do mundo, em roupas e costumes, gaúchos com suas pilchas, pantaneiros e nordestinos em suas vestimentas de couro temos que nos curvar a texanos (nada contra texanos).
A ditadura money-moda-mídia continua a tomar conta das nossas rádios e tevês, onde além de imperar a música country-from-Nashville também temos que suportar o reggae jamaicano importado por cantores famosos da Bahia, logo eles que estão imersos nos ritmos mais "quentes" do mundo. Valorizaram a música alheia esquecendo-se das suas raízes. Paciência. São coisas feitas por e para uma população que já se acostumou a beber água de outra fonte que não a sua.
Sempre foi assim. Nossos antepassados tupiniquins não entregaram suas árvores de pau-brasil, papagaios e peles de onças a troco de panos, miçangas e vidros coloridos?
Breve alguns mitos brasileiros, tais como boitatá e saci-pererê, não passarão de lendas remotas, porque os duendes, gnomos e bruxas estão ganhando a "parada". Eles já têm até lojas especializadas, organizadas em redes de franquias de sucesso. Adesivos como "eu acredito em gnomos" imperam em todos os tipos de carros.
E voltando a falar em róloim, por que será que a nossa mídia dá tanto espaço para este assunto? Por acaso nossos jornalistas, que deveriam defender a cultura pátria, já estão contaminados? Recentemente importantes livros das lendas brasileiras escritos por Clarice Lispector, Moacyr Sclier e ilustrados por Lazar Segal foram editados e não se falou uma linha deste assunto. Penso que o folclore, a música brasileira autêntica, dança e costumes populares soam para a nossa classe média e para o pessoal da elite como coisas de pobre. Chique e de valor tem que vir de Miami.
Importar boa cultura, bons costumes, tecnologia e novas palavras para nosso vocabulário não é de todo ruim, mas róloim?! Isto é demais para a minha cabeça!
Merecemos mesmo a pecha de colonizados. E ao que tudo indica, ficaremos neste buraco por muito tempo.

*Halloween significa todas as almas santificadas. É o dia que antecede ao finados. Festa tipicamente americana.


Texto cedido por Eloi Zanetti - publicitário, escritor, assessor de comunicação e marketing.
eloizanetti@terra.com.br

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