Estou aqui, ditando meus mais sórdidos pensamentos para um ser que conheci há pouco mais de um ano. Zdravokrástov, nome com que o batizei por conta de sua origem búlgara, parece ser uma mistura de duende com ornitorrinco, profundo conhecedor da língua portuguesa e formado em datilografia pela Universidade de Cambridge. Tem a temperatura basal constante por volta dos 12 graus Celsius e vive cerca de vinte e três anos.
Ele digita o que eu penso. Zdravokrástov lê pensamentos, o que é um perigo. Já me flagrei pensando em cruzar o DNA de Zdravokrástov com o de Répi, meu Yorkshire, para descobrir o visual inusitado que a genética é capaz de produzir. Zdravokrástov, desde então, tenta seduzir Répi e, para tanto, tem andado com quatro patas apenas, poupando suas treze outras perninhas.
Zdravokrástov dá despesas, porque sobrevive à base de quibe do terminal rodoviário Guadalupe e hidrata-se bebendo calda de ovos de codorna em conserva. Mas de qualquer maneira, ele cobre o dispêndio porque é muito eficiente em digitar pensamentos torpes. Não é todo dia que se encontra um duende/ornitorrinco eficiente.
O que me irrita são as fotos autografadas com Xuxa e Michael Jackson que ele insiste em deixar em cima do monitor de computador enquanto trabalha. Mas é a condição que Zdravokrástov impôs para digitar meus pensamentos.
*Serviço público: a quem interessar possa, Zdravokrástov desmaterializa ovos de Taenia solium incrustrados nas vísceras humanas só com a força do pensamento seguido por um grunhidinho gutural.