Não postei nada ontem porque era o Dia Internacional da Mulher. Explico: eu que tenho útero , achei-me no direito de tirar o dia de folga. Mas logo senti um remorso pois deveria ter postado alguma coisa sobre um mulherão, ao invés de ter curtido um feriado não instituído.
A mulherão sobre a qual me refiro é Nair de Teffé, mais conhecida como Rian (anagrama de seu prenome), a grande pioneira na arte do cartum e da charge no país.
Nascida no dia 10 de junho de 1886 no Rio de Janeiro, filha do Barão de Teffé, Nair foi criada nos melhores educandários da Europa. Era uma belíssima mulher na juventude, cortejada por todos. E "como se não bastasse" também possuía predicados pessoais que espantavam as pessoas de seu tempo: cantava, tocava vários instrumentos, escrevia peças de teatro e as encenava e além disso também caricaturava a sociedade "como homem", segundo relatos da época. Freqüentou a Académie Julian de arte (Paris), cujos cursos eram dez vezes mais caros para mulheres. Nair caricaturava a sociedade carioca quase ao mesmo tempo em que Toulouse Lautrec fazia o mesmo com as noites boêmias de Montmartre.
A bonita, inteligente e divertida Rian casou-se com Marechal Hermes da Fonseca e tornou-se primeira dama do país aos 27 anos. Tocava peças (lascivas para a época) de Chiquinha Gonzaga no Palácio do Catete para chocar os conservadores. À frente deles ninguém menos do que Ruy Barbosa, que não poupava críticas à primeira dama. Resultado: ele foi caricaturado por Rian e virou motivo de chacota. Com cartunista não se brinca.
Em outra ocasião, Nair de Teffé, entrou numa reunião ministerial presidida pelo marido trajando um vestido cuja roda da saia ostentava caricaturas de todos os Ministros de Estado. Irreverente, alegre, brincalhona. Realmente uma mulher a frente de seu tempo.
E enquanto as mulheres comuns conversavam sobre futilidades nos salões, a espoleta Rian caricaturava. Era mordaz, crítica, satírica, debochada, de traços vibrantes que retrataram muitas personalidades: o pai Barão de Teffé, toda sociedade carioca, políticos e personalidades internacionais. Criou belíssimas charges para os livros "Petrópolis, a Encantada", "O trem dos maridos", "A chegada de um "Diário", "As elegantes", "Melindrosas e almofadinhas", "Deves-se bater nas mulheres?", "Petrópolis, Estação de Águas", "O emprego de genro", "Petrópolis... que não ri", "Petrópolis, o flirt". Colaborou com os diários cariocas A Careta, O Binóculo, O Malho, Fon-Fon, Gazeta de Notícias, Gazeta de Petrópolis, e com revistas francesas.
Rian teve uma terceira idade de grave dificuldade financeira, apesar de ter sido herdeira de uma fortuna do crepúsculo imperial. Dizem que Rian gostava de jogos de azar e por conta disso perdeu toda herança. Mas foi amparada pelos seus três filhos adotivos.
Nossa primeira grande dama do humor faleceu no exato dia de seu aniversário, aos 95 anos.
postado por Pryscila Vieira, uma mera cartunistinha. pryvieira@yahoo.com.br
# introduzido por Pryscila @ 12:12 PM